sábado, 19 de outubro de 2013

Ordem Divina

Ordem divina


Nasceu em uma manhã fria e com mais aquela chuva fina estaria sentenciada sua morte se não fosse a ordem divina: - viva e cresça! Tenho um trabalho para você.
Quem discute com Deus? O corpinho tremia de frio enquanto o coração batia insistente e obediente.
Com muito custo emitiu um som, depois dois, só que ninguém os ouviu. Foi ganhando fôlego e provocou um gemido mais alto. Sentiu o calor de um ser vivente novamente. Alguém o pegou! Ainda não podia abrir seus olhinhos.
Recebeu seu primeiro alimento, engoliu-o desesperadamente quase se engasgando.
Quem seria essa alma bondosa que tocada o salvou? Poderia ser alguém rico que logo lhe compraria uma caminha quente e roupinhas, só que Deus permitiu a tarefa a um morador de rua.  Mas a ação foi igualmente acolhedora.
Foi arrumada uma caixa de papelão com trapos de pano macio para lhe servir de cama e vestido com roupinha mais quatro sapatinhos achados no lixo. Descartados, quem sabe, por alguma madame.
Tão quentinho e bem alimentado que nem faria diferença caso parasse em casa de luxo. Carinho não lhe faltava.
Tão logo ganhou forças e peso, abanou seu rabinho e lambeu o rosto de quem, tão generosamente, dividiu seu canto e alimento.
Vagava com seu dono pelas ruas, foi crescendo com saúde, porém o mesmo não acontecia com seu amigo que aos poucos adoecia. A tosse era um tormento na madrugada.
O dia preparado chegou.
Em uma esquina de rua perigosa houve uma batida de carros. Um pai chorava desesperadamente pelo filho que havia sido arremessado pela janela. A criança não estava com cinto de segurança.
O cão entrou no mato e achou a criança rapidamente, coisa que os bombeiros não estavam conseguindo. O pai não se continha em gratidão, quis pegar o cão e tirá-lo das ruas, mas ele não se deixava agarrar, corria de um lado para o outro escapando de todos. Correu de volta para o beco onde seu dono tremia de febre.  
O pai foi atrás, precisava muito agradecer. Quando o avistou, contemplou a cena comovido: o cão e o mendigo eram verdadeiros amigos.
O pai, homem de bom coração, promoveu socorro para o morador de rua em seus últimos momentos de vida.
Hoje, o cão mora bem instalado, olha para a rua de sua varanda abanando seu rabinho, sem entender a diferença entre lixo e luxo, retribuindo carinhos e cumprindo seu papel como um bom cão.
            

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Grata por escrever aqui! Que bom que você gostou! Estou escrevendo estes contos para os meus alunos da geração @, que estão ligados na imagem, lerem com atenção. bjs

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