sábado, 19 de outubro de 2013

Erro de cálculo

Erro de cálculo


     Ninguém mais o procurava. Foi dado como furtado e ponto final. E quem achava que ao vendê-lo continuaria rico, foi envelhecendo na mais triste pobreza. Foi um erro de cálculo.
     O seu dono era um homem amargo que só sorria para seu papagaio. Não se casou nem teve filhos. Foi o último de uma nobre família e pensou que poderia viver bem, até o final de seus dias, vendendo os pertences herdados: talheres de prata, copos de cristal, louças inglesas, tapetes persas... Era precisar, vender, que o dinheiro caía em suas mãos.
     Quanto ao objeto furtado, tratava-se de um anel de brilhantes que valia o preço daquela casa luxuosa que aos poucos se esvaziava.
     O anel era guardado no cofre e de lá só saía para ser colocado na janela, o seu dono adorava vê-lo multiplicar os raios coloridos do sol por todo o quarto. Só seria vendido se muito necessário fosse.
     Certo dia, o anel sumiu. Foi um alvoroço. A polícia investigou o caso interrogando toda a vizinhança porque empregados não havia. O furto não foi desvendado.
     O tempo foi passando, o jardim secando e o silêncio só era quebrado pela fala do papagaio, único e último amigo do velho:
 - Querido, tô aqui! – Querido, tô aqui!

      Morreu em uma manhã de sol. Foi encontrado perto da janela sendo consolado pelo seu papagaio que o tocava com o anel no bico multiplicando os raios coloridos por todo o quarto.



   

Um comentário:

  1. O conto " Erro de cálculo" vem sendo usado como um dos meus instrumentos de trabalho para a matéria Produção Textual.
    Eu peço que meus alunos façam uma carta para o senhor solitário questionando sua escolha de vida e tentando assim mudar o seu triste destino.
    Amei os trabalhos dos alunos: Bianca Rodrigues G. M. G. (Niteroi-2019) e de Matheus P. L. (Piabetá-2018)

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