quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Mãe

     
       Pela fresta da cortina, encaro o Cristo Redentor por quase toda a madrugada pedindo como merecimento uma boa recuperação cirúrgica para minha mãe. Estamos eu e minha irmã Melly nos revezando em atenções para ela neste hospital que dizem ser “de ponta” em matéria de equipamentos e profissionais.
       Prescrita a retirada da vesícula, de nada adiantou minha mãe dizer que não se operaria. De fato não se operou, isto quem fez foi o médico. Tudo correu bem, mas meu maxilar se contraiu ainda mais, pois além de negar as benditas gotinhas relaxantes para relaxá-lo, estávamos todos apreensivos com o que ficou exposto na operação: O fígado estava dilatado. Retiraram material para pesquisar, para fazer uma biópsia.
      O que vem com o amanhã? A ansiedade e a angústia da espera.
       Minha irmã abre os olhos e me vê acordada, quando minha mãe abre os dela fechamos os nossos. É bom que ela pense que relaxamos para ter uma boa recuperação.
       A dúvida perdurará por três dias até que chegue o resultado do que nem quero escrever, queremos pensar na melhor das hipóteses para que tudo termine bem.
        Não há felicidade se um dos nossos não está bem.
       A maior preocupação de minha mãe é com nossa irmã Ilka que tem a síndrome de down, de meiguice, de serenidade, de bondade e um olhar que diz saber muito mais do que imaginamos.
       Minha mãe teve três meninas, eu que sou a mais velha tive cinco e minha irmã caçula teve uma. Meu pai que sempre quis um neto se satisfez pela quantidade.
       Graças que o tempo não somente enruga, também cicatriza, acalma, descansa. Mas vem de novo a lembrança e nos assusta.
       O Cristo todo iluminado está de frente para mim, de braços abertos como que dissesse: -Te acolherei!  Dá para ser com toda a minha família? Que momentinho doído! Oh tensão muscular! Vejo que não é somente a barriga cheia, a saúde não nos pode faltar.
       Serão três dias sem sorrisos? Serão três dias de orações! Que a misericórdia divina nos acalme e nossa fé não se afaste para que possamos suportá-los.
       Um, dois, três e até o final do dia o resultado não chegou. Que esfrega! ( Lobato falava assim) Pagamos muitos de nossos pecados. Só ficamos mais leves no dia seguinte com apenas uma ligação dizendo que não foi acusada malignidade. Tive vontade de aprender a sambar, sempre quis isso, mas não levo o menor jeito. Como isso é tão rico e valioso, um grande, gigantesco presente: a esperança.
       E a minha mãe lá na maior folga, em uma ignorância de dar inveja, ainda pediu ao telefone um pão de batata recheado com requeijão. Haja paciência divina!     





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